CPT Ceará assina nota de apoio ao povo de Caetité - BA, às organizações que atuam no enfrentamento da mineração de urânio e ao Pe. Osvaldino
A CPT Ceará, juntamente com as outras organizações que compõem a Articulação Antinuclear do Ceará (MST, Núcleo TRAMAS - UFC, Cáritas de Sobral e Cáritas Regional), devido às últimas manifestações em Caetité - BA, assinou e enviou nota de apoio ao povo de Caetité, às organizações e ao Pe. Osvaldino e familiares, que tem recebido ameaças de morte. A nota foi entregue pelos oito participantes do Ceará no evento que ocorre nos dias 01 e 02 de junho em Caetité, o lançamento do Relatório da Plataforma Dhesca e do Documentário sobre a Mineração de Urânio. Abaixo, segue a nota.
CARTA ABERTA DA ARTICULAÇÃO ANTINUCLEAR DO CEARÁ DE APOIO AO POVO DE CAETITÉ, ÀS ORGANIZAÇÕES E AO PADRE OSVALDINO
Nós, que compomos a Articulação Antinuclear do Ceará, vimos, através desta carta, manifestar nossa solidariedade ao povo de Caetité, às organizações que atuam no enfrentamento da mineração de urânio e ao Pe. Osvaldino, ao mesmo tempo em que expressamos nossa indignação pelo descaso dos órgãos ligados ao Governo Federal responsáveis pela mineração e da INB frente aos impactos socioambientais e para a saúde humana que este empreendimento tem trazido para as populações atingidas.
Deixa-nos intrigados o fato de que, mesmo após tantos acidentes nucleares que vitimaram milhares de inocentes, como o recente acontecido na Usina Atômica de Fukushima Daiichi, o Governo Brasileiro queira seguir firme com o seu programa nuclear. Este mesmo governo atua fortemente na busca de tornar o país a quinta potência econômica mundial, mas não se empenha com as mesmas forças na garantia dos direitos humanos e do meio ambiente. O discurso é de defesa destes direitos, mas as decisões e práticas apontam para um outro rumo, contrário à sustentabilidade ambiental e garantia dos direitos básicos e inalienáveis dos brasileiros e brasileiras.
É visível a falta de empenho dos governos em discutir alternativas para a produção de energia, utilizando recursos renováveis, que gerariam impactos infinitamente menores sobre as comunidades.
Questionamos que tipo de democracia é esta que não respeita os cidadãos e cidadãs em suas necessidades e os deixam à margem na discussão sobre a viabilidade social, econômica e ambiental destas obras, o acompanhamento do processo licitatório e elaboração do EIA/Rima, bem como da decisão da implantação ou não das mesmas.
Diante desta triste realidade, as manifestações que aconteceram em Caetité e região, e continuam acontecendo, são justas e necessárias para a garantia dos direitos das populações e do meio ambiente frente a uma obra executada “a toque de caixa”, empurrada “de goela abaixo” sobre estas comunidades. Por isso, fazemos côro com a população de Caetité: “Caetité não é depósito de lixo”.
Entristece-nos e revolta-nos o fato de lideranças comunitárias, militantes de movimentos sociais e agentes de pastorais sociais serem perseguidas e criminalizadas na luta pela justiça. Nosso chão está banhado do sangue de homens e mulheres que, para defender o seu povo e a natureza, foram assassinados por denunciarem políticos e empresas.
Recebemos com profunda indignação a notícia das ameaças recebidas por Pe. Osvaldino e familiares seus. Por isso, nos solidarizamos a ele e a sua família neste momento que tentam desmobilizar a luta, mas a coragem e ânsia pela justiça superam todo medo.
Reafirmamos que somos contra o nuclearismo, à construção de mais usinas nucleares e dizemos não à mineração de urânio. Queremos dizer ao Governo Brasileiro, à INB e à Galvani que não concordamos com a implantação da mineração de urânio e fosfato em Santa Quitéria – Ceará, na mina de Itataia e exigimos que as populações do entorno e organizações sociais interessadas na questão sejam urgentemente consideradas no processo de discussão sobre a viabilidade da mineração.
O progresso e o desenvolvimento que queremos para a região é bem outro, ou seja, o investimento na agricultura familiar camponesa, que gerará emprego e renda consideravelmente maiores que a mineração, na saúde, na educação, no acesso à Terra, à água e garantia dos direitos básicos. Aliás, os parcos empregos que esta atividade minerária gerará para pessoas da região são de baixa qualidade e expostos a riscos e os lucros serão destinados aos bolsos de pessoas e empresas que, há anos, atuam como sanguessugas de nossas riquezas naturais, concentrando renda e gerando desigualdade social.
Reafirmamos ainda que somos a favor do fim do programa nuclear brasileiro e que os governos e empresas assumam a responsabilidade em gerir todo o passivo ambiental já produzido, a fim de que não causem mais impactos aos nossos povos, ao mesmo tempo em que reafirmamos a necessidade urgente de discutir e implementar processos de geração de energia a partir de recursos renováveis, com investimento de recursos públicos.
Esperamos que a vida dos brasileiros e brasileiras e do meio ambiente seja prioridade para este Governo e para os que virão e que o bom senso tenha a última palavra, enquanto seguimos organizados na luta pela justiça, na construção de um Brasil socialmente justo e ecologicamente sustentável.
Fortaleza-Ce, 30 de Maio de 2011
Articulação Antinuclear - Ceará
Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem-Terra (MST)
Nucleo TRAMAS – Trabalho, Meio Ambiente e Saúde para a Sustentabilidade (UFC)
Cáritas Brasileira – Regional Ceará
Cáritas Diocesana de Sobral
Comissão Pastoral da Terra Ceará (CPT)
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