MARGARIDA! DOM FRAGOSO! ALFREDINHO! PRESENTES!
Zé Vicente
Uma Lutadora, um Peregrino, um Profeta. Num mesmo dia, 12 de agosto, festejamos suas páscoas. Assim poderemos, os amigos e amigas, conhecidos e conhecidas e todo o povo de boa vontade, celebrar neste 12 de agosto de 2008, a memória preciosa desta Trindade de nossa Caminhada.
No dia 30 de julho, quando cantei no 1º GRITO DA TERRA-NORDESTE, em frente à Sede do DNOCS, em Fortaleza, foi emocionante, ver aquelas mulheres de preto, cantando comigo a “Canção pra Margarida”, música que compus, dois anos após o assassinato da líder camponesa da Paraíba, recordando seu Grito imortal: “DA LUTA EU NÃO FUJO!”.
– “Não faz muito tempo, seu moço, nas terras da Paraíba, viveu uma mulher de fibra, Margarida, se chamou! Um patrão com uma bala, tentou calar sua fala e, o sonho dela, espalhou!”.
Nos dias 8 e 9 de agosto, na cidade de Crateús, cerca de mil pessoas da Cidade e das Comunidades Eclesiais de Base, festejaram, em seu 9º Encontro, os 44 anos da Diocese, nascida nos dias memoriais em que o Sopro do Espírito movia a Igreja Católica com o Concílio Vaticano II e trazia para aquela região sofrida do Ceará, seu primeiro bispo com vocação de pastor-profeta, Dom Antônio Fragoso. Por ocasião dos 20 anos,em 1984, morando na cidade, eu compus a marchinha em tom menor: “ Chuva nova do Espírito,fez brotar em Crateús, na alma do povo pobre,sementes de fé e luz! Um Pastor,feito Profeta, Dom Fragoso,irmão, gritou, que o tempo está chegando,que Deus de nós se lembrou!”
Foi simbólico, que o dia 08-08-08, foi de chuva fora do tempo, espalhando pelo velho sertão uma brisa com cheiro de terra molhada, despertando em nossa alma, um misto de saudade e desejo de plantar, novas sementes, mesmo que em tempos de muitos templos e queimadas, como cantava o poeta paraibano, Vandré, nos idos de 1968, na ditadura militar brasileira: “ não planto em tempo que é de queimada”!
O lema do Encontro das CEBs, não poderia ser outro: “ Do ventre da terra o grito pela Vida em nosso semi-árido!”, desdobrado em oito Tendas de Convivência.
Naquela que fui convidado a monitorar, tratamos, com umas 80 pessoas, da Arte-Cultura nas CEBs. O local, a Igrejinha de S.Francisco, aquela onde o Pe.Alfredinho, peregrino-penitente,também da estirpe dos profetas, comoveu a região inteira,nos dias 09 a 19 de março de 1981, com um jejum e oração e moveu os primeiros passos do Projeto “Porta Aberta ao Faminto-PAF”, na grande seca que se abateu sobre o semi-árido nordestino. Ao início da vivência, fizemos o gesto, tão familiar para o povo que conviveu com o Alfredinho: “BENÇA, PE.ALFREDINHO!” Com um instante de silêncio para sentir e atualizar para os novatos a resposta que ele dava para quem pedia sua benção: “DEUS TE FAÇA FELIZ!”.
Foi para a primeira romaria da Irmandade do Servo Sofredor, criada por Ele, com base bíblica nos Cantos do Servo, do Profeta Isaías, que eu compus: “Bendita seja esta marcha, dos pobres, dos sofredores, romeiros de S.Francisco, de Jesus os seguidores!”.
Na Celebração final, Dom Jacinto, o bispo atual de Crateús, iniciou com a memória do seu antecessor, e seu convidado especial para a Festa, o Monge Marcelo Barros, nos deu uma mensagem clara para o hoje das CEBs, com seus membros, animadores(as) e agentes – “... nunca abandonar a marca original da Diocese, que é Martirial e Profética. Nunca abandonar o diálogo, com todas e todos, que pensam e agem diferente. Nunca perder a opção radical pelo Reino, mas sem nos deixarmos levar pelo sectarismo, que muitas vezes cria impasses e feridas...” Eu vi que havia uma lágrima nos olhos de uma mulher que por todo esses 44 anos é testemunha fiel da missão em Crateús.
E o Evangelho daquela noite falava de Jesus andando sobre o mar revolto, pela tempestade e ventos contrários... (Mt 14,22-32).
Nesse dia 12 de agosto, em que lembramos a memória pascal comum, de Margarida Alves, Pe. Alfredinho e Dom Fragoso, homenageados em eventos diversos, quero cantar com alegria a mesma Essência que os uniu por aqui – o compromisso com a Vida, a Justiça aos excluídos(as), a paz na terra do semi-árido nordestino e nas ruas das grandes cidades, onde muitos de seus moradores, os últimos companheiros de Alfredinho, moram e clamam. Uma mártir, um peregrino sofredor, um bispo-profeta, “todas as suas vidas pelo Reino da Vida”, como lembra bem o bispo poeta Pedro Casaldáliga.
EU sou feliz, por ter sido contemporâneo deles e dela e poder cantar para as crianças e jovens de hoje, o SONHO BOM QUE NOS UNIU!
Zé Vicente – poeta-cantor
e-mail: zvi@uol.com.br
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