Cisternas provam eficácia da convivência com o semiárido

No passado, o segundo semestre do ano era de sofrimento com a escassez de água. Hoje, a realidade mudou

Cariús Duas organizações não governamentais, o Centro de Defesa dos Direitos Humanos, em Senador Pompeu, e o Instituto Elo Amigo, em Iguatu, integram o esforço da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA), para promover o acesso à água e à segurança alimentar a dezenas de famílias de agricultores no sertão cearense.

A construção de cisternas de placas e de calçadão, cujos recursos são oriundos do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), tem se mostrado um meio eficaz de acesso à água para consumo e produção de alimentos.

Até agora, já foram construídas 39.275 cisternas de placas, com a programação de mais 22.500 para o próximo ano, segundo dados da Secretaria do Desenvolvimento Agrário do Estado (SDA). Há um projeto piloto para a construção de 1.500 cisternas de calçadão, que já foram conveniadas e estão em fase de execução.

Em meio a denúncias de má aplicação de recursos do MDS por algumas Prefeituras no Interior do Ceará para a construção de cisternas de placas (obras inacabadas ou com rachaduras), o esforço de organizações de sociedade civil tem apresentado bons resultados.

As famílias são capacitadas sobre o uso correto das unidades no período de estiagem. Os exemplos, segundo o coordenador da ONG Instituto Elo Amigo, Marcos Jacinto, estão espalhados em diversas comunidades rurais nos Municípios de Cariús, Crato, Jardim, Saboeiro, Piquet Carneiro, Independência, Tauá e Crateús.

Seleção

As instituições que fazem as políticas públicas do Governo Federal chegar à casa dos agricultores integram a articulação do Fórum Cearense pela Vida no Semiárido. Uma comissão municipal faz a seleção das famílias, que passam por formação técnica, para serem beneficiadas com as obras.

Há dois tipos de cisternas: a de placa, com capacidade para armazenar 16 mil litros de água de chuva captados por calha no telhado, do Programa por Um milhão de Cisternas (P1MC), que começou em 2003; e a cisterna calçadão, do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), que armazena até 52 mil litros de água para uso em irrigação de hortaliças e pomares no quintal das casas.

Para entender a sigla P1+2, Marcos Jacinto, esclarece: "O um significa terra para produção. O numeral dois corresponde a dois tipos de água - a potável, para consumo humano, (armazenada em cisternas de placas), e água para produção de alimentos (armazenada no modelo calçadão)".

As famílias atendidas pelo Programa P1+2 são selecionadas a partir de critérios sociais e econômicos, com prioridade para as casas que já dispõem de cisterna de placa, mulheres na qualidade de chefe de família, presença de crianças de até 6 anos, idosos acima de 65 anos e pessoas portadores de necessidades especiais.

De acordo com a ASA, o objetivo do programa é fomentar a construção de processos participativos de desenvolvimento rural no semiárido brasileiro e promover a soberania, a segurança alimentar e nutricional e a geração de emprego e renda às famílias agricultoras, por meio do acesso e manejo sustentáveis da terra e da água para produção de alimentos.

Na localidade de Riacho do Meio, zona rural de Cariús, quase todas as 54 famílias moradoras do lugar foram atendidas com cisternas de placas e nove do tipo calçadão. Antonieuda Carvalho é uma das beneficiadas e disse que a obra trouxe grande benefício. "Antes, a gente andava com balde na cabeça, indo pegar água distante, no riacho", contou. "Na época do verão, da seca, os poços secavam e água ficava ruim".

Hoje, além da água para o consumo, a família dispõe de verdura e algumas frutas, mesmo no período de verão. "Até abacaxi a gente está plantando", mostrou. "O excesso de produção da verdura a gente dá para os vizinhos". O marido dela é pedreiro e, atualmente, trabalha na construção de outras cisternas em Cariús.

As famílias dão como contrapartida a escavação do terreno, a alimentação dos operários e ajudam no trabalho de construção da unidade. Irani Vieira de Lima, outra beneficiada com a cisterna calçadão, disse que a obra trouxe uma vida nova. "Com certeza, melhorou a nossa qualidade de vida", frisou. "Os frutos que nós produzimos é de forma orgânica, sem veneno". A água acumulada ajuda outra atividade da família: a criação de vacas leiteiras.

O agricultor Emídio Lima, ao lado da esposa, Francisca Lima, mostra-se satisfeito com as duas cisternas. "Foi uma bênção", disse. Inicialmente, o produtor não queria o benefício, por estar idoso, mas hoje agradece. "Já sofri muito indo pegar água no riacho, em poços, mas agora tenho aqui do lado da minha casa".

Na comunidade de Riacho do Meio, a 37Km de Cariús, não se vê mais uma pessoa com lata d´água na cabeça. "A nossa meta é atender outras famílias com cisterna calçadão. Primeiro nós temos a preocupação de capacitar os beneficiários para que usem corretamente as unidades", frisou o técnico do Elo Amigo, Ednaldo do Carmo. A ideia é evitar o uso inadequado ou mesmo a não utilização das cisternas, deixando de captar água no período invernoso. Neste ano, o Elo Amigo em parceria com outras instituições já construiu 77 cisternas de placas, quatro barragens subterrâneas e três tanques comunitários.

Honório Barbosa
Repórter
Fonte: Diário do Nordeste

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