Entrevista com Jung Mo Sung
Entrevista – Jung Mo Sung: O ser humano precisa se reconciliar com seus limites
"O pressuposto dessa possibilidade do Bem Viver começa com o ser humano se reconciliar com seus limites, se não vira mais uma proposta”, falou o teólogoJung Mo Sung, durante sua participação no 8º Encontro Nacional Fé e Política, que aconteceu nos últimos dias 29 e 30 em Embu das Artes, São Paulo.
Em entrevista a Adital, Mo Sung fala sobre as perspectivas do Bem Viver com relação às condições humanas, e como esta assunto também se liga à economia, tema do qual tratou numa das 17 plenárias temáticas apresentadas no evento.
Adital – A espiritualidade não seria um ponto central para que se possa adentrar na questão do Bem Viver?
Jung Mo Sung - Acho que o conceito do Bem Viver é muito vago ainda. É uma tentativa de sair da ideia de uma vida com mais riqueza para o Bem Viver vinda dos povos andinos. Agora o que cada um entende como Bem Viver é problemático.
Mesmo que nós abracemos essa causa e consigamos viver bem, todas as formas da vida têm suas contradições por causa da condição humana. Então a espiritualidade é importante nesse ponto. Tem a ver se nós seremos capazes de conciliarmos a condição humana da finitude, do limite e também não desejar um Bem Viver perfeito. Se você quer um Bem Viver perfeito porque acha que é possível viver plenamente, você vai cair na ansiedade e na frustração. O pressuposto dessa possibilidade do Bem Viver começa com o ser humano se reconciliar com seus limites, se não vira mais uma proposta.
Adital – A economia, tema de sua plenária temática, se relaciona diretamente com o limite...
Jung Mo Sung – Nesse meu tema, vou mostrar que a Economia tem a ver com a produção da vida. A comunidade cristã precisa falar de economia porque a fé é fé em Deus da vida e vida corporal. E a sustentabilidade tem a ver com essa postura, de que há limites. O mundo moderno cria a ilusão de que não há limites para o ser humano. Querer é poder. Se eu quero eu posso. Não há limite para o meu poder, porque não há limite ao meu querer. E dentro da sustentabilidade existe limite do meio ambiente, do ser humano, da capacidade de conhecimento, de organizar a economia.
Acho que a grande contribuição da Teologia e da Igreja já é estabelecer, retomar a ideia que nós somos seres limitados. Portanto se não tomarmos cuidado e ficar nessa ansiedade do infinito nós vamos destruir as condições que possibilitam a vida humana no planeta.
Adital – Há muitas críticas às Igrejas. Qual sua opinião sobre o ser e viver a Igreja hoje? É algo que também está em crise?
Jung Mo Sung - Eu não sou tão pessimista em relação à Igreja. Muitas vezes surgem novas formas de tentar viver essa espiritualidade, só que de um jeito que a gente não entende. Por exemplo, no setor pentecostal, evangélico, nós temos muitos grupos com ideias muito interessantes com uma linguagem que os setores mais tradicionais que discutem essa coisa da esquerda não conseguem entender. Por não entender acha que eles são alienados e eu acho que não. Tem o princípio teológico: o Espírito Santo atua para além de nossa Igreja e para além do nosso grupo teológico. O fato de eles fazerem e dizerem coisas diferentes não significa que também não tenham uma alternativa.
Rogéria Araújo
Jornalista da Adital
Adital - 31 de outubro de 2011
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