Orgânicos na Copa

JORNAL DIÁRIO DO NORDESTE
EDITORIAL
03.03.2012

Projeto dos mais significativos para a saúde coletiva começa a ser executado para assegurar à rede hoteleira, de restaurantes, lanchonetes e supermercados o fornecimento de alimentos orgânicos por ocasião da Copa do Mundo de 2014.

A iniciativa é do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), com o apoio da Secretaria de Desenvolvimento Agrário do Ceará, da Secretaria de Pesca e Aquicultura e do Conselho de Políticas Públicas e Meio Ambiente (Conpam). Pela sua relevância para a saúde, todo alimento natural deveria ser orgânico.

Atualmente em franca expansão nos mercados consumidores, o alimento orgânico é aquele produzido sem a adição de substâncias tóxicas quando de seu plantio e colheita. Por questões de herança cultural, o agricultor brasileiro habituou-se a combater as pragas dos campos de produção com o uso do variado cardápio de agrotóxicos disponíveis no mercado, apesar da proibição para seu comércio nos países desenvolvidos.

A opção pelos defensivos agrícolas fez do Brasil um dos líderes mundiais na importação dos agrotóxicos, comprometendo, com o seu uso, a qualidade dos alimentos, a saúde dos trabalhadores, dos consumidores e dos cursos d´água atingidos pelas embalagens das substâncias tóxicas.

A falta de conhecimento do produtor sobre as consequências dos "remédios" para combater as pragas e de controle sobre sua comercialização tem preocupado os centros universitários voltados para a pesquisa médica sobre seus efeitos. As maiores universidades mantêm linhas de pesquisas, mapeando os efeitos maléficos e divulgando as consequências como prevenção.

Os malefícios das drogas já foram identificados, em grande extensão, no Vale do Jaguaribe, na Serra do Apodi e na Serra da Ibiapaba, especialmente nos cultivos de frutas e de verduras. Os centros médicos dispõem de pesquisas documentadas sobre os prejuízos causados pelos agrotóxicos à saúde, afetando a partir do sistema nervoso central.

Há igualmente linhas de pesquisa para a substituição do agrotóxico por defensivos naturais, como a manipueira, sem provocar prejuízos à saúde. Nesse ponto, o Ceará lidera na descoberta de sucedâneos naturais para o veneno das plantas. No entanto, não encontra apoio institucional para expandir seu consumo.

A produção de orgânicos no Ceará começou timidamente, mas, aos poucos, vem-se desenvolvendo e ainda é insignificante, se comparado com o tamanho das glebas habituadas com o uso de defensivos agrícolas. Os orgânicos ocupam 13 mil hectares, embora as terras restantes, ocupadas com o padrão de agricultura tradicional, sejam da ordem de dois milhões de hectares.

O grupo encarregado de expandir a produção e o consumo de alimentos orgânicos no Ceará pretende reunir-se com as redes hoteleira, de supermercado, de restaurantes, bares e lanchonetes com o propósito de difundir a necessidade de mudança do consumo dos produtos agrícolas que não sejam os orgânicos, para oferecer maior qualidade nos alimentos por ocasião dos jogos.

Para os produtores, há oferta abundante de crédito agrícola oriundo do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste e do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar. A produção orgânica, portanto, isenta de agrotóxicos, deveria ser uma exigência do plano agrícola governamental. A Copa do Mundo poderá ser o momento inicial do esforço coletivo em prol da saúde pública.


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