Cisternas de plástico e a sustentabilidade no semiárido

A iniciativa é polêmica por introduzir tecnologia que foge ao domínio da comunidade local e é bem mais cara

           Amanhã, sexta-feira, o município de Tauá vai sediar uma audiência pública sobre a utilização de cisternas de plástico (polietileno) em substituição às de alvenaria, no programa Água para Todos, do Ministério da Integração. O debate ocorrerá durante a reunião da Comissão de Desenvolvimento da Câmara dos Deputados.
          A construção de cisternas de placa para armazenar água da chuva e garantir água potável para as populações do semiárido tem sido um recurso altamente acolhido pelas populações sertanejas desde que a tecnologia foi desenvolvida por um pedreiro sergipano, em 1967, destacando-se por sua simplicidade e seu baixo custo, graças ao uso de placas de cimento pré-fabricadas.
         Já estão mais do que comprovados os benefícios sociais extraordinários do programa. A água depositada na cisterna é de boa qualidade e usada para beber e cozinhar, evitando as doenças transmitidas pela água contaminada dos carros-pipa, responsável pelo surto de diarreias e o incremento da mortalidade infantil. Cada unidade pode armazenar 16 mil litros de água, o suficiente para atender uma família de cinco pessoas por oito meses.
         Em 2003, foi estabelecida a meta de construção de um milhão de cisternas de placas até o ano de 2008. Quatro anos depois da data oficial do término do programa, a meta ainda está longe de ser cumprida. Daí, surgiu a ideia de se adotar um novo modelo de reservatório, feito de polietileno, e o projeto de instalar 300 mil unidades desse tipo para dar celeridade ao projeto.
         A iniciativa é polêmica, antes de tudo, por introduzir uma tecnologia que foge ao domínio da comunidade local e é bem mais cara.
        A vantagem do modelo tradicional é ser construído pelos próprios usuários, empregando materiais ao seu alcance e aproveitando a mão de obra local em obediência ao princípio da sustentabilidade.
         Em caso de deterioração, pode ser recomposta pelos próprios usuários. Além do mais, tem a vantagem de fortalecer os laços comunitários.
          Já a cisterna de polietileno deixa a comunidade dependente da boa vontade das burocracias – quando houver necessidade de substituir as que se deteriorarem - prejudicando o espírito de iniciativa e de autonomia que o modelo tradicional proporciona.
Fonte:
EDITORIAL 12/04/2012  Caderno: Caerá Jornal: O POVO

Comentários

  1. É muito preocupante que se tomem decisões como estas de substituir cisternas de placas de cimento por cisternas de plástico sem o aval da comunidade uma vez que o programa tem o intuito de usar material e mão de obra local para a instalação das cisternas de cimento. Sendo assim é inaceitável que as de plástico tomem o lugar das de cimento, visto que também as de plástico concentra e muito o poder de fabricar e instalar, o que não é nenhum pouco favorável para os municípios que fazem uso das mesmas. Penso que os prefeitos deveriam também lutar para que essa substituição venha a se consolidar trazendo prejuízo para seus municípios.

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    1. Diana, estamos de pleno acordo com seu comentário. Porém, vale lembrar que indústria da seca continua imperando no Nordeste, os que detém o poder não admitem que o povo, torne-se protagonista das suas ações e escolhas. Só para não esquecer em ano eleitoral vale tudo. Grata pelo seu comentário. Lia Lima

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