Declaração Final do Encontro Internacional sobre Espiritualidade Libertadora à luz da Teologia da Libertação
Nós, membros das associações Fundalatin,
Ecuvives, Fedefam, Romero Vive, Cecoce (CEBs), unidos às delegações da
Argentina, Brasil, Canadá, Colômbia, Cuba, Equador, El Salvador, Espanha,
Paraguai e Venezuela, e em solidariedade com todos os povos irmãos dos países
da América e do mundo,
DECLARAMOS:
1. Que, diante da mudança de época que atinge o
continente latino-americano e caribenho, diante de tantos signos de integração
sonhados por nossos próceres, como Simón Bolívar, San Martín, Artigas, Martí,
Sandino, Hidalgo, Alfaro, sentimos a urgente necessidade de iluminar esses
processos com uma espiritualidade libertadora inspirada na Teologia da
Libertação.
2. Que a construção da unidade latino-americana e
caribenha, da Pátria Grande, que resultou uma utopia frustrada há dois séculos,
hoje está em marcha, aqui e agora. Se novos ventos começaram a soprar na
região, devemos, no entanto, estar alertas. Esse processo regional não vai sem
riscos nem agressões como os já padecidos pelo povo hondurenho e, recentemente,
pelo povo paraguaio, que atentam contra o processo de integração dos povos da
América Latina e Caribe.
3. Que o sonho de Bolívar ilumina os processos
revolucionários de alguns povos latino-americanos e caribenhos; vemos neles os
sinais do Reino de Deus, proclamado por Jesus de Nazaré, e pela força
espiritual de nossos povos originários e afrodescendentes.
4. Que os princípios ético cristãos,
macroecumênicos, pluralistas e de nossos povos originários dão força moral a
esses processos tão assediados pela corrupção sustentada pelo sistema
capitalista que estimulou o consumismo desmedido e coloca o ter acima do ser.
Por outro lado, uma ética de serviço, não de opressão, dá uma nova conotação ao
conceito de poder, tanto político quanto religioso; porque quem não governa
para servir, não serve para governar.
5. Nosso rechaço à manipulação dos meios de
comunicação social, que alienam; estimulam a violência, a mentira; tergiversam
os fatos; utilizam as meias verdades. Na violência midiática incluímos os meios
de comunicação religiosos que, fazendo uma leitura literal da Bíblia, mantêm um
sistema patriarcal, machista; uma teologia sacrificial; bem como a chamada
teologia da prosperidade, desmobilizadora dos povos, que conduz à resignação e
ao conformismo.
6. A política e a fé devem caminhar unidas.
Seguindo a inspiração de Dom Óscar Arnulfo Romero, Mártir da América Latina, e
de Juan Vives Suriá, defensor dos direitos humanos, acreditamos na dimensão
política da fé. A espiritualidade libertadora ilumina a política, a enriquece e
a questiona. Não meter-se em política é trair o projeto de Jesus de Nazaré para
esse mundo.
7. Nossa solidariedade com o povo paraguaio e
condenamos o golpe parlamentar que destituiu ao legítimo presidente desse país
irmãos, Fernando Lugo.
8. Nos solidarizamos com a Igreja de Sucumbíos,
Equador, pela intervenção vertical do Vaticano, que impõe uma estrutura
eclesial ritualista, buscando romper com o modelo de Igreja-Comunidade
comprometida com os processos históricos de libertação. Denunciamos essa
política de involução impulsionada pelos setores mais conservadores da Igreja
Católica. Também nos solidarizamos com o Equador nesses momentos quando o
império britânico quer violar o direito internacional, ameaçando intervir na
embaixada equatoriana em Londres.
ACORDAMOS:
1- Criar uma rede de todos os coletivos da
América Latina e do mundo que se inspiram na espiritualidade libertadora à luz
da teologia da Libertação, para contribuir com a construção de outro mundo
possível e necessário, onde se instalem o Reino de Deus, da paz com justiça
social e soberania.
2- Acompanhar o processo bolivariano que inspira
a outros povos a impulsionar seus processos de transformação.
3- Promover uma ética libertadora e rechaçamos
uma moral farisaica e opressora. Ser coerente entre o dizer e o fazer.
4- Fomentar os meios de comunicação alternativos
e comunitários. Estes devem converter-se em promotores de uma comunicação
libertadora e de um eficaz trabalho em rede.
5. Assumir as palavras do profeta Pedro
Casaldáliga, quando diz: "Creio que só é possível ser cristão sendo
revolucionário, porque não bastam as reformas; temos que transformar o mundo”.
CONCLUIMOS:
Nos unimos a todos os grupos autóctones,
movimentos populares, às comunidades cristãs de outras tradições espirituais e
a nossos irmãos e irmãs da América, que constroem a partir da prática da
Reologia da Libertação, que aprofundem nos elementos éticos, culturais e
espirituais do novo bolivarianismo, para consolidar uma Teologia Pluralista e
Intercultural Bolivariana da Libertação. Que todos escutemos o que, desde
nossas comunidades latino-americanas "o Espírito diz às Igrejas” (Ap.
2,5).
Caracas, 19 de Agosto de 2012
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