CPT REALIZA ENCONTRO NACIONAL DE FORMAÇÃO PARA DISCUTIR PASTORALIDADE
Reunidos em Luziânia, Goiás, no Centro de Formação Vicente Cañas, entre
os dias 23 e 26 de outubro, cerca de 60 agentes da CPT de todo o país
discutiram a Pastoralidade no dia a dia de trabalho da CPT. Ao final do
Encontro, eles aprovaram a Carta Final em que reafirmam, entre outras coisas,
"manter fidelidade ao projeto de Jesus e, por isso, manter a fidelidade
aos indígenas, quilombolas e todas as categorias de camponeses que são os
'últimos e os penúltimos' na escala social, decretados à morte pelo poder
dominante". Confira o documento na íntegra:
Aos irmãos e irmãs da CPT, das igrejas e das pastorais
Estivemos reunidos, em Luziânia, no Centro de Formação Vicente Cañas, do
CIMI, de 23 a 26 de outubro de 2013, 55 agentes de pastoral de todos os
regionais da CPT, para aprofundar em quatro dias de estudo, convivência
fraterna, com fortes momentos de oração
e contemplação, a dimensão
pastoral da CPT, que nos é irrenunciável.
Nossa reflexão partiu da escuta
da pastoralidade que é vivida e
desenvolvida de formas diferentes e por pessoas diferentes nos meios
populares, quase sempre marginalizados, discriminados e oprimidos. São pessoas
que assumem o pastoreio dos seus semelhantes no cuidado da vida e das feridas
dos que sofrem. Nossa reflexão buscou e encontrou na Bíblia a fundamentação do
ser pastor. E descobrimos que esse pastorear está carregado de ambigüidades,
pois os que dominam e governam o povo se fazem chamar de pastores. Os profetas
se levantam contra eles, pois em vez de se preocupar com o povo “apascentam a
si mesmos” (Ez 34,2)
Nosso modelo de pastor é Jesus que deixa 99 ovelhas no deserto e vai em
busca da que se perdeu e que disse que o Bom Pastor é aquele dá a vida por suas
ovelhas. (Jo 10,11)
No nosso trabalho, enquanto CPT, sentimos diariamente os clamores das
comunidades indígenas, quilombolas, camponesas em geral, pois sua relação
prazerosa com a terra, a água e as florestas, que para elas é espaço de vida,
cada dia se torna mais inviável no
modelo capitalista que domina nosso pais que tudo quer transformar em
mercadoria.
Hoje a situação das comunidades é mais grave do que quando a CPT foi
criada há quase 40 anos. Vivem ameaçadas de perder a terra e o território onde
nasceram e os poucos direitos que arduamente conquistaram. Sofrem ataques
diários dos que se julgam “donos” da terra e se encastelam nos âmbitos dos
poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Cada dia mais seus sonhos de ter
garantido seu espaço de vida é interrompido e negado.
É nesta contradição que a CPT desenvolve sua ação pastoral de acordo com
o que vemos nos Evangelhos. Todo o dia temos que nos confrontar com as forças
contrárias (ver Jo 10,1.8.12) dos que não
querem o pão repartido e o povo organizado, como Jesus nos aponta quando
mandou seus discípulos organizarem o povo em grupos para que o pão pudesse
saciar a todos. (Mc 6,39-40). Nas Igrejas, muitos ainda não entendem que nossa
ação é verdadeiramente pastoral, porque falamos de comunidades que se preocupam
com a partilha do pão e a organização do povo como fez Jesus. Mas, ao mesmo
tempo nunca nos faltou o apoio de outros que se mostram solidários com as
causas que defendemos e oferecem seu
apoio efetivo e concreto.
Concluímos nossa reflexão com a afirmação de algumas opções
irrenunciáveis da nossa identidade e prática pastorais que o Espírito suscitou
em nossas igrejas, quando se constituiu a CPT. Partilhamos com vocês estas
opções, como compromisso e apelo para a continuidade de nossa missão:
Não podemos nos vender, nem nos render e nos deixar cooptar pelo poder,
a ideologia e as seduções do capital. Não podemos deixar de alimentar a mística e a espiritualidade que funde
o humano e o divino.
Não podemos substituir o povo, queimar processos, coibir autonomias,
colocar obstáculos ao protagonismo popular. Não podemos nos apresentar como iluminados e com monopólio da verdade.
Por outro lado reafirmamos que devemos:
Manter fidelidade ao projeto de Jesus e, por isso, manter a fidelidade
aos indígenas, quilombolas e todas as categorias de camponeses que são os
“últimos e os penúltimos” na escala social, decretados à morte pelo poder
dominante. Partilhar suas lutas e conquistas e a memória de seus mártires.
Denunciar as injustiças e a violência contra os povos do campo, da água
e das florestas e anunciar-lhes o apoio para a vida nova que brota da sua luta
e organização.
Acreditar no protagonismo dos pequenos e pobres.
Desenvolver a acolhida, a escuta e o diálogo com a diversidade de
expressões religiosas e culturais.
Construir comunhão através da colegialidade nas decisões e fazendo
circular o poder.
Garantir um processo permanente de formação, desenvolvendo também a
capacidade de registro e sistematização das experiências.
Num tempo em que o
capital investe pesadamente na manipulação de uma religião só de louvor
para silenciar o profeta, temos que
afirmar a nossa pastoral de maneira orgânica, criando espaços de fé, mística,
reencantamento e festa que nos alimentam e
estimulam e não nos deixam jamais perder a esperança.
Luziânia, 26
de outubro 2013
Os participantes do Encontro Nacional de Formação
- See more at:
http://www.cptnacional.org.br/index.php/publicacoes-2/noticias-2/16-cpt/1796-cpt-realiza-encontro-nacional-de-formacao-para-discutir-a-pastoralidade#sthash.ahSwfeQf.dpuf
Comentários
Postar um comentário