Reunião para discutir a seca no Ceará abordou convivência com o semiárido e reivindicou ações do poder público
Ao final da reunião um documento foi redigido com ações a serem tomadas.
Por Helaine Matos
Setores da Igreja Católica do Ceará se
reuniram na manhã desta quarta-feira (15) com representantes de movimentos
sociais, trabalhadores e trabalhadoras rurais para debater a situação hídrica
do Estado que enfrenta a pior seca dos últimos 55 anos.
A reunião aconteceu
no Centro Pastoral Maria Mãe da Igreja e contou com a participação efetiva de
bispos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) Regional Nordeste I,
Comissão Pastoral da Terra (CPT) Ceará, Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP),
Cáritas Regional Ceará, Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e Dioceses
de Fortaleza, Crateús, Crato, Iguatu, Itapipoca, Limoeiro do Norte, Quixadá e
Sobral, além da presença do Secretário Estadual de Desenvolvimento Agrário,
Antônio Rodrigues de Amorim.
O objetivo da reunião
foi debater os problemas que as populações urbanas e rurais enfrentam em função
do déficit hídrico provocado pela irregularidade das chuvas e exigir do poder
público a tomada de ações emergenciais e estruturais para amenizar o sofrimento
das comunidades.
Entre os problemas
compartilhados durante a reunião está o baixo nível de armazenamento dos açudes
cearenses. Segundo informações da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos
Hídricos (Funceme), 116 reservatórios encontram-se com volume inferior a 30%.
Foto: Gabriela Bento. |
O Secretário Estadual
de Desenvolvimento Agrário, Antônio Rodrigues de Amorim reconheceu os problemas
que o Ceará enfrenta em função da seca, mas defendeu as ações emergenciais que
o governo tem feito para minimizar o sofrimento das famílias. Ele destacou a
implementação de 163 mil cisternas executadas na atual gestão, o abastecimento
com carros-pipa e os projetos de abastecimento como o Água para Todos e o
Projeto São José II e III. “Temos que trabalhar com estruturas permanentes, mas
vamos atender as demandas emergenciais”, disse.
O bispo emérito de
Limoeiro do Norte, Dom Edmilson da Cruz aproveitou o momento para criticar a
substituição das cisternas de placa pelas de polietileno que estão sendo
instaladas em vários municípios cearenses para o armazenamento da água. Segundo
ele, as comunidades que recebem as “cisternas de plástico” são privadas do
envolvimento e da consciência do valor do recurso hídrico que a construção das
cisternas de placa proporciona à população que dela participa. O pensamento de
Dom Edmilson foi compartilhado por outros setores presentes na reunião.
A SECA TAMBÉM É URBANA
O representante da
Comissão Brasileira de Justiça e Paz da Diocese de Crateús, Elias França
defendeu o déficit hídrico como um problema que atinge todas as populações do
Estado. “A seca não é mais um problema dos pobres do campo, é também um
problema urbano. Mas falta ainda a consciência de que somos todos do
semiárido”, disse ele se referindo ao desperdício de água praticado nas
cidades.
Sobre essa questão, o
Secretário Estadual de Desenvolvimento Agrário, Antônio Rodrigues de Amorim
complementou: “é preciso reeducar as pessoas porque fartura de água vai ser
cada vez mais difícil”.
Já o MST reivindicou
o acesso da água às populações que mais necessitam dela e questionou o Estado
sobre o desperdício e o alto consumo de água praticados por grandes empresas,
em especial, as que trabalham com a exportação de frutas no Ceará e a
mineração.
Ao final da reunião
um documento foi redigido apresentando as principais ações a serem tomadas para
diminuir os problemas das populações atingidas pela escassez de água, entre
elas: o repúdio às cisternas de polietileno; a inclusão de todas as comunidades
no entorno da construção de adutoras para que nenhuma fique sem acesso à água;
o debate para que seja combatido o uso que o grande capital faz dos recursos
hídricos no Estado; possibilitar processos de mobilização popular e
intensificar a frequência dessas discussões, além da proposta de formação de
uma comissão para participar das reuniões do Comitê Integrado de Combate à Seca
para pressionar o poder público na tomada de ações em benefício da população
cearense.
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