Educação do Campo: Construtores do Futuro
O IV
Congresso Nacional da CPT levantou a necessidade de denunciar mais intensamente
e combater o fechamento das escolas no campo, prática que tem se intensificado
nos últimos tempos no Brasil, bem como cobrar de forma mais veemente políticas
públicas que garantam educação de qualidade para o povo no e do campo.
O campo
nunca foi pensado como espaço de vida pelo Estado. Ao longo da história do
campo brasileiro as políticas educacionais sempre foram pensadas de forma
desigual, inferiorizada e residual.
Nesta concepção, para viver no e do campo bastava apenas saber ler, pois
cabia ao camponês somente reproduzir sua força de trabalho e tirar da terra os
alimentos para atender à cidade. O reflexo desta lógica foi a ausência e formulação
de políticas que levassem em consideração o modo de viver e de se organizar das
populações do campo.
“A
escola do campo ensina para além do letramento, promove e garante o convívio
das pessoas em suas diferenças e suas identidades camponesas para a liberdade”,
disse a educanda do campo Elen Lisboa, de Terra Nova (MT), da tenda Rio São
Miguel.
Os
camponeses e camponesas, trabalhadores e trabalhadoras do campo sempre
produziram grande parte da cultura brasileira e múltiplos saberes populares e
conhecimentos, em suas várias formas de organização em seus territórios.
A
Comissão Pastoral da Terra, ao longo dos seus 40 anos de existência, vem
apoiando e reafirmando as lutas camponesas, por terra, água, educação, direitos
e vida plena aos povos campo. As experiências dos quilombolas, dos indígenas,
das comunidades tradicionais, assentados, acampados, assalariados refletem seus
projetos de vida alicerçados num projeto de educação emancipadora, libertadora.
A educação do campo se diferencia da educação rural principalmente por
contrapor ao modelo de educação bancária, alienante e reprodutora do capital.
Ela tem em seus princípios fundamentais o diálogo de saberes tradicionais, de
gerações, de igualdade de gênero, de cultura popular na autorganização dos territórios
e dos assentamentos.
A
educação do e no campo de fato e de direito, reconhece a realidade e
necessidade dos povos campesinos, tendo como ponto de partida seu lugar,
vivência e cultura para afirmar e reafirmar a identidade camponesa.
O
cenário nos últimos dez anos revela que mais de 37 mil escolas foram fechadas
no campo de acordo com (INEP). Esses dados apontam como as políticas
educacionais tem sido tratadas pelos governos em suas diferentes escalas.
Programas específicos e pontuais de educação do campo não garantem continuidade
nas ações. O fator quantitativo é sempre levado em consideração para o
fechamento das escolas, sem sequer consultar as comunidades. Muitas escolas
rurais e não do campo, encontram-se em situações precárias, gestores da cidade,
educadores sem formação específica, mesmo tendo atualmente mais de 40 cursos de
Licenciatura em Educação do Campo em curso em todo o país.
De
fato, muitas ações de luta pela educação do campo tem sido travadas pelos
camponeses e camponesas, quilombolas e indígenas, seja pela ocupação do
Ministério da Educação, realização de fóruns municipais e estaduais,
participação em conferências, mobilizações, construção de audiências públicas,
elaboração de propostas curriculares diferenciadas junto aos conselhos
municipais e estaduais, pressão junto aos governos para a realização de
concursos públicos específicos entre outras ações.
A
partir dos diversos relatos das experiências apresentadas no IV Congresso
Nacional da Comissão Pastoral da Terra, tendo o Rio Madeira a nossa volta, em
plena floresta amazônica, foi reafirmado coletivamente o nosso compromisso com
a educação do campo e a vida, através da denúncia e combate do fechamento das
escolas no campo, uma violação dos direitos das populações do campo, das águas
e das florestas. Nesse sentido, a lei 12.960/14, que dificulta o fechamento das
escolas rurais, quilombolas e indígenas é fruto dessa luta.
"É
necessário um amplo debate político em escala nacional sobre os rumos da
educação no campo no País, executadas nos municípios e estados, tão submissos à
estrutura conservadora da propriedade privada da terra e sua função",
analisa a educadora popular Creuza Teles.
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