Encontro Mundial de Movimentos Populares começa na Bolívia
1500 pessoas de 40 países discutem os eixos
de diálogo com o Papa, que participa do evento na quinta (9). O Encontro
começou nesta manhã de terça-feira.
(Por Joana Tavares, da Bolívia/Página do MST)
“Quando vejo essas pessoas, as caras das
pessoas, dá uma esperança. A gente sente que o povo tem capacidade de
transformar, de construir um mundo mais humano, mais fraterno, de igualdade”,
diz Marina dos Santos, do MST, uma das 250 brasileiras que participa do
Encontro Mundial de Movimentos Populares em Santa Cruz de La Sierra, na
Bolívia.
O Encontro começou na manhã de terça (7), com
a presença de 1500 pessoas de 40 países do mundo. A programação prevê painéis
de discussão sobre os eixos “Terra”, “Trabalho”, “Teto”, além de oficinas para
aprofundamento das discussões e trocas.
Esses eixos foram inspirados na exposição do
Papa Francisco no primeiro encontro, que destacou que é preciso lutar para que
não haja mais “nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem trabalho digno
e nenhuma família sem moradia digna”.
Na tarde de hoje, o presidente do Estado
Plurinacional da Bolívia, Evo Morales, faz a abertura oficial do encontro. Na
quinta (9), às 17h30, o Papa Francisco também se reúne com os participantes.
“A luta pela Mãe Terra”
O primeiro painel “A luta pela Mãe Terra e a
contribuição de Laudato Si” contou com a exposição de quatro representantes da
resistência camponesa. Atrás de uma mesa ornamentada com alimentos produzidos
pelos povos da América, João Pedro Stedile, da coordenação da Via Campesina,
lembrou como a organização do agronegócio compromete a soberania alimentar e a
saúde de todos. “Nós temos que ter nosso plano, o plano do povo. Já não basta
apenas ‘terra para quem nela trabalha’, como clamava Zapata. Mudou o paradigma.
É preciso pensar uma mudança no campo que interessa a todos, que garanta a
produção de alimentos sadios e sem venenos. Que respeite a biodiversidade, que
resgate a agroecologia. Esse plano de agricultura interessa a todo o povo”,
destacou.
Silvia Ribeiro, do ETC Group, do México,
criticou a concentração das empresas que atuam no campo, em todo o mundo. Ela
citou o caso das sementes, no qual apenas dez empresas controlam 80% do
mercado. Além disso, as mesmas que produzem os venenos produzem os transgênicos
que dependem deles. “Os transgênicos produzem muito menos, não podem ser
replantados, usam muito veneno, causam diversos malefícios à saúde, como o
aumento dos casos de câncer, além de custar mais caro”, sublinhou.
Rodolgo Machaca, da Confederação Sindical
Única de Trabalhadores Campesinos da Bolívia, destacou o método que será usado
durante o encontro: denunciar, levantar demandas e assumir compromissos. “Os
governos neoliberais têm culpa porque permitiram saquear nossas terras. Por
isso a unidade internacional é fundamental, porque precisamos nos unir para expulsar
as multinacionais”, exortou.
O bispo da Diocese de Aysén, no Chile, Luis
Infanti della Moura, também criticou o imperialismo, lembrando que estamos
todos chamados a lutar por um mundo melhor. “O Papa nos chama a tomar
consciência para romper e derrubar as estruturas que nos escravizam cada vez
mais”.
Solidariedade internacional
Melike Yarar representa o movimento de
mulheres curdas. Ela deu seu depoimento das mulheres que lutam contra o Estado
Islâmico que oprime os povos de seu país. “A América Latina para nós é um
exemplo. Estamos aqui para compartilhar nossa resistência e para criar
comunicação entre nós. Precisamos de um plano de intervenção global. Precisamos
unir nossas forças. Viver é resistir, resistir é viver”, disse.
Primeiro encontro
Entre 27 e 29 de outubro de 2014, o Papa
recebeu no Vaticano dirigentes sociais dos cinco continentes, que representaram
organizações de base principalmente de três setores - trabalhadores precarizados, camponeses sem
terra e pessoas que vivem em moradias precárias – mas também sindicalistas,
ativistas de direitos humanos e de pastorais sociais.
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