Pastoral da Terra registra 23 assassinatos no campo no 1º semestre e tendência é aumentar
A Comissão Pastoral da Terra
(CPT) registrou 23 mortes em conflitos no campo no Brasil até julho deste ano.
A maioria dos casos aconteceu na região Amazônia, somente um não ocorreu nessa
área. Os casos são assim dividido: o de uma liderança indígena Ka’por, no
Estado do Maranhão, 11 mortes no Pará e 10 em Rondônia. A Bahia, fora da
Amazônia, registrou mais um assassinato. No mesmo período do ano passado, foram
registrados 20 mortes. Segundo o representante da CPT, Ruben
Siqueira, em entrevista à Adital, a tendência é que esse número aumente.
"Existe um clima no Congresso Nacional muito conservador, de direita,
paramilitar, acirrando os conflitos, reprimindo camponeses, o que favorece a
violência”, alerta.
A maioria dos conflitos no campo acontece em
torno de grandes obras de infraestrutura, principalmente energética. A
constatação de que a maioria das mortes ocorreu em torno das usinas de Belo
Monte e0 Tapajós [Pará], Jirau e Santo Antônio [Rondônia] confirmam isso. Os
projetos tem um impacto grande sobre a vida dos povos que vivem na Amazônia.
"As comunidades amazônicas são como obstáculos, o que provoca a violência
e, assim, eles são as maiores vitimas”, afirma Siqueira.
A maioria das mortes no Pará incluiu
camponeses sem terras, quando pressionados por fazendeiros a deixarem o pedaço
de terra conquistado, mostrando outro foco de violência, que são situações de
reforma agrária mal resolvidas.
Em Rondônia, houve duas tentativas de
assassinatos por conflitos agrários, na região de Ariquemes e no entorno do Vale
do Jamari (Buritis, Monte Negro, Campo Novo, Cojubim, Distrito Rio Pardo e
Machadinho do Oeste). Foi nesta região que a violência se concentrou. Uma das
mortes ocorreu enquanto a CPT realizava seu IV Congresso Nacional, na capital
do Estado, Porto Velho, no último dia 15 de julho.
Outra tentativa de assassinato aconteceu em
janeiro deste ano. O geógrafo Elizeu Bergançola sofreu um atentado a tiros. Ele
continua sendo ameaçado por denunciar a extração ilegal de madeira de áreas
extrativistas. Mais uma tentativa de assassinato aconteceu em maio último; o
sem-terra Alexandre Batista de Souza foi baleado no Assentamento Nova
Esperança, em Cojubim [RO]. A crescente espiral
de casos de assassinatos por jagunços, a mando de fazendeiros, donos de
latifúndios, com denúncias não esclarecidas de policiais e milícias armadas
envolvidas, é o que mais preocupa em Rondônia. De acordo com a CPT de Rondônia,
o Governo do Estado tem apenas criado novos assentamentos, com acampamentos à
beira da estrada e batalhas mal resolvidas há décadas. O aumento do desemprego
na região, a população cada vez mais pobre enxerga no campo a fonte de seu
sustento, o que estimula a ocupação de terras abandonadas.
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