Nota de Apoio e Solidariedade ás famílias sem Terra no Ceará.






Fortaleza-Ceará, 04 de Dezembro de 2018.

                       
A Comissão Pastoral da Terra do Ceará vem através da presente expressar irrestrita solidariedade ás famílias do acampamento Zé Maria do Tomé, na chapada do Apodi, município de Limoeiro do Norte-Ce e ameaçadas de serem despejadas das terras onde fixaram residência e de onde estão retirando o sustento das suas famílias desde 2014, e, também às famílias do Acampamento 17 de Abril, em Santana do Acaraú, onde cerca de sessenta (60) pessoas que foram expulsas violentamente, no dia 28/11/2018, da terra onde residiam e trabalhavam há mais de três anos. 

Lembramos, também, as famílias de um acampamento urbano em Tamboril que foram agredidos com um incêndio criminoso próximo às suas barracas, e cujos malfeitores fugiram de moto ao perceber a aproximação das pessoas que se aproximavam para apagar as chamas. Este fato foi denunciado no dia 30 de Outubro último. 

Estes fatos confirmam os dados do Caderno de conflitos no campo, elaborado pela Comissão Pastoral da Terra Nacional, com base nos dados de 2017, que nos apresenta uma situação de agravamento no número de conflitos no campo em comparação com o ano anterior.

No Ceará foram seis conflitos, em 2017, envolvendo 3.300 famílias de camponeses sem terra e indígenas, e mais dois conflitos envolvendo 280 famílias que tiveram as terras que ocupavam retomadas nos municípios de Jaguaruana e Quixeramobim. 

Tivemos ainda três conflitos que envolveram 16 trabalhadores libertados do trabalho escravo, sendo 03 (três) em Acaraú, e 13 (treze) em Caucaia, município da região metropolitana de Fortaleza. Segundo nota do MST, são três (03) áreas com trabalhadores acampados e ameaçados de expulsão, nos municípios de Lavras da Mangabeira, Mauriti e Limoeiro do Norte.

Vale esclarecer que as famílias do acampamento Zé Maria do Tomé estão ocupando e produzindo nessa área desde 2014, são, portanto, quatro anos de luta e resistência dessas famílias na busca por condições para produzir e viver com dignidade. Esta área localiza-se dentro do perímetro irrigado da chapada do Apodi, sendo, portanto, uma área pública.

Como seguidores do Evangelho de Jesus Cristo, o nazareno, e em comunhão com o Papa Francisco, retomamos aqui as suas palavras, quando da viagem à Bolivia em julho último: “Depois de ouvir os pobres, camponeses, sem teto, indígenas, e excluídos em geral, afirmou: Trabalho, Teto e Terra para todos- “São direitos sagrados”. E continuou: Ouso dizer que o futuro da humanidade está, em grande medida, em suas mãos, em sua capacidade de organizar-se e promover alternativas criativas na busca cotidiana dos três “T” - Trabalho, Teto e Terra. Não se intimidem.” 

É exatamente isso que os nossos irmãos e irmãs da chapada do Apodi e dos outros acampamentos estão fazendo, e é em nome da nossa fé e do nosso compromisso evangélico que apoiamos e nos solidarizamos com eles e elas, enfim com todos e todas famílias sem terra.

Apelamos às autoridades do Estado do Ceará, para que encontrem soluções reais e favoráveis a estas famílias que estão lutando apenas, pelo direito de serem tratados com a dignidade própria de seres humanos.

                           
COMISSÃO PASTORAL DA TERRA DO CEARÁ


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